Porta para o paraíso

Chovia forte, o vento frio soprava com força e os clarões dos raios que serpenteavam no ar incandesciam nossas vistas. Ele sempre foi fascinado por este espetáculo da natureza, tempestades. Estávamos na fazenda dos meus pais, sentados na mureta da varanda, juntos a uma pilastra. Sentia uma sensação muito gostosa enquanto ele me aquecida com o calor do seu corpo e me envolvia com carinho em seu abraço, a água da chuva escorria por entre as telhas formando uma verdadeira cascata de ante de nós e o som da água que batia no telhado era apenas superado pelos trovões, todos os sentidos dele estavam voltados para aquilo, seus olhos brilhavam tão intensamente com os clarões vindos do céu que seu semblante assemelhava-se a de uma criançinha que assistia encantada a um número de trapezistas.

Queria parar o mundo naquele momento, naquele instante para nunca mais me separar daquela pessoa que superou todos os seus medos e confiou partilhar sua vida comigo, quero protegê-lo deste mundo com todas as minhas forças e desejo amá-lo de todo meu coração e de todo meu sentimento. Muitas pessoas não sabem, mas ele carrega consigo muitas cicatrizes e feridas profundas, acho até que algumas ainda não cicatrizaram completamente, mas mesmo assim ele não deixa de sorrir e de acreditar de que pode proteger as pessoas que ama com suas mãos. Não quero vê-lo machucado novamente, tantas batalhas árduas, tanta dor e lágrimas ele suportou até nossos destinos se cruzarem e agora que conheço sua historia melhor do que ninguém quero que ele descanse e junto a mim seja feliz.

Nem sei dizer quanto tempo fiquei ali olhando para ele enquanto pensava mil coisas, até que seus olhos correram em minha direção e ao me perceber me deu de presente um sorriso que apenas eu, em todo mundo, sabe o seu real significado. O meu corpo foi tomado por uma energia quente e aconchegante que vinha do âmago do meu coração e meu desejo se uniu ao dele e naquela troca de olhares sabíamos que estávamos destinados a seguirmos pela vida como Um só.
Considerando que estávamos mergulhados no meio da noite e que todos estavam dormindo, sem que ele percebesse lancei mão de meus dons divinos e mergulhei todos da casa ainda mais fundo em seus sonhos agradáveis, pois aquele instante seria apenas nosso e não deixaria nada nem ninguém interferir-nos. Gentilmente o segurei pelas mãos e caminhamos um pouco pela chuva até chegarmos embaixo da árvore da qual ele mais gostava de ficar a sombra, nos abraçamos demoradamente apenas sentindo o Amor fluir, numa troca mágica e ininterrupta, embora estivéssemos encharcados, o calor intenso de nossos sentimentos protegia-nos do frio daquela noite. Podíamos sentir a entrega e a vontade de termos um ao outro em sua totalidade naquele instante, minhas alvas asas revelaram-se em todo o seu esplendor e envergadura e no centro dos olhos dele pude ver o meu reflexo, pelos olhos do meu amado pude ver o verdadeiro Amor fitando-me com profunda atenção, minha mão correu até a altura de sua cintura, então forcei meu corpo contra o dele ainda mais e como se a gravidade ganhasse ainda mais força, éramos atraídos para baixo e sem que déssemos conta estávamos deitados na relva encharcada, nos envolvemos num maravilhoso beijo a medida que nossas mãos se entrelaçavam firmemente. E durante o resto daquela noite este anjo pôde sentir novamente o gosto de estar no paraíso.

*Inspirado na imagem. Dando continuação ao conto, alguns dias depois da cena anterior...